Entrevista Exclusiva a Duarte Gomes...Qualidade Inquestionável

Entrevista Exclusiva a Duarte Gomes...Qualidade Inquestionável

 

Entrevista retirado do site: https://arbitragemcoimbra.bloguedesporto.com/

Desta vez o nosso brilhante entrevistado é o árbitro internacional português Duarte Gomes.

Conhecido como pessoa séria,honesta,trabalhador e humilde no seio da arbitragem, Duarte Gomes é um dos melhores árbitros portugueses da actualidade e as suas exibições são sinónimo de qualidade dentro do terreno de jogo.

Duarte Gomes prontamente acedeu ao nosso pedido com todo o seu brilhantismo e como o mesmo nos disse antes da entrevista e que nos ficará para sempre como referência e passo a citar " todas as fases são boas,sobretudo as menos fáceis".......  

Deixamo-vos em baixo a entrevista e fiquem maravilhados :

 

AC-Como foi o trajecto de Duarte Gomes na arbitragem e a sua ascensão até á 1a categoria ?
DG-Entrei na arbitragem, por mera curiosidade, em 1991. A partir daí, comecei a interessar-me pela causa e a dedicar-me cada vez mais. A evolução enquanto árbitro permitiu, numa idade em que ainda era um adolescente à procura do seu caminho, um crescimento interior muito importante. As coisas foram correndo bem, evoluindo e acabei por chegar à 1ª Categoria Nacional decorridos sete anos.


AC-Como é a maneira de estar do Duarte Gomes dentro e fora da arbitragem ?
DG-Falar de nós próprios nunca é fácil e parecerá sempre falível. É sempre preferível que sejam outros a fazê-lo.

De qualquer modo, procuro não esquecer as minhas origens, os princípios que me foram ensinados e lembro-me, todos os dias, que sou um privilegiado porque tenho saúde e estabilidade emocional e pessoal, estou perfeitamente realizado enquanto homem e ser humano e faço o que gosto, com respeito pelos outros.

Na arbitragem, dentro e fora do relvado, sou um espelho fiel do que sou como homem. É possível dissociar funções de forma profissional e racional, mas é impossível sermos outra pessoa quando as desempenhamos.

AC-Estando há muitos anos na 1a categoria e com a sua experiência que estratégia usa para lidar com a pressão que é feita aos árbitros da 1a categoria?
DG-Procuro ver sempre o lado positivo das coisas. Encaro as dificuldades não como obstáculos, mas como verdadeiros desafios, que nos testam, que nos põem à prova e devem, por isso, ser ultrapassados com distinção. A pressão, o ruído em redor desta função, todas a agitação que este sector causa é, até certo ponto, motivada pela paixão e, quando excessiva, causado pela cultura desportiva enraizada num povo latino, mais emotivo que racional. Aprender a ultrapassar tudo isso sem perder a sua identidade e o amor à camisola é o grande objectivo.

AC-Qual a sua opinião acerca dos vários centros de treino da Liga espalhados pelo País?

DG-São iniciativas louváveis, embora ainda embrionárias face às exigências que o futebol profissional cada vez mais acarreta. Mas é um primeiro passo rumo à criação de hábitos mais profissionais de trabalho (físico-táctico), fundamental para a evolução da nossa qualidade, que até há bem pouco tempo sempre foi descurado.


AC-Acha que uma equipa de arbitragem deveria ser sempre fixa com os mesmos elementos semanalmente ou pode haver uma rotação de árbitros assistentes como acontece de momento?

DG-Uma equipa distingue-se de um conjunto de pessoas talentosas mas que nunca trabalharam juntas... precisamente pelo facto de estarem habituadas a trabalhar em conjunto. De conhecerem as características de cada um, os seus pontos forte e fraquezas, a sua forma de estar e agir em diferentes momentos, a sua personalidade e capacidade profissional.Também na arbitragem, essa é a fórmula que melhor resulta.

Esse é um caminho inevitável.

AC-Está disposto a enveredar pela profissionalização da arbitragem? Porquê?

DG-Não se podem tomar decisões que afectam carreiras, vidas pessoais, profissionais e familiares de ânimo leve, sem conhecer em pormenor as circunstâncias que alterariam tão radical alteração de hábitos.
A acontecer, teria que ser ponderado todo o projecto de forma cuidada e amadurecida.Mas é uma opção em aberto,como qualquer outra.


AC-Quais as suas ambições como árbitro a nível nacional e internacional?

DG-Nesta fase de maturação, com 36 anos de idade, 12 de Primeira Categoria e 7 de Árbitro Internacional, os objectivos são revistos e amadurecidos.

Mais do que ambicionar atingir o “Céu e as Estrelas”, a verdadeira realização de um árbitro vem quando se sente respeitado, bem com a sua consciência e aceite pelos agentes como sério e íntegro, ainda que coloquem – como podem – em causa a sua competência técnica e qualidade enquanto árbitro.                                      

AC-É fácil conciliar-se a vida de árbitro com a vida familiar para quem tem por vezes de se ausentar alguns dias do seu lar?

DG-É outro desafio, como tantos outros que esta carreira nos coloca. Mas ser árbitro é uma opção e como tal, há-que saber aceitar tudo o que daí resulta, sendo certo que – como tudo na vida – com equilíbrio e bom-senso, tudo é possível.


AC-Como vê a actualidade da arbitragem portuguesa?

DG-A precisar de mudar. Somos um País pequeno, quando comparado com grandes potências futebolísticas europeias. Temos um número reduzido de árbitros para a realidade desportiva e, ainda assim, existem três arbitragens distintas: a do futebol profissional, a do futebol não-profissional e a dos campeonatos distritais, cada uma com órgãos de gestão próprios.

 Os árbitros recebem diferentes directrizes, têm diferentes regulamentos e condições distintas de trabalho, estão sujeitos a métodos de avaliação inadequados e antagónicos. Realidades tão dísparas num contexto futebolístico tão pequeno não fazem sentido.

Ainda assim, vejo um conjunto de árbitros de grande qualidade e futuro, dedicados, atentos, técnica e fisicamente muito fortes.

É esse futuro que deve e tem que ser salvaguardado de forma séria. 

AC-Acha que a comunicação social é a principal inimiga dos árbitros dando ênfase excessivo sempre que um árbitro erra ?

DG-Obviamente que não. A comunicação faz o seu papel, os árbitros devem fazer o seu. Se é verdade que a forma de fazer e vender notícia hoje em dia pode ser discutível, ela apenas surge em resposta às necessidades do mercado que as consome: as pessoas, o público em geral precisam que o futebol alimente paixões, para poderem de algum modo esquecer, ainda que por momentos, as dificuldades socio-económicas que atravessam. Faz sentido que assim seja.

Aos árbitros, cabe aprender a viver num mundo tecnologicamente evoluído, muito competitivo e aguerrido e profundamente distinto daquele que existia há apenas 15 ou 20 anos atrás.


AC-Tem alguma opinião formada acerca dos árbitros de Coimbra e da sua longa ausência da 1a categoria? (excepção do Roque ano passado).

DG-O afastamento dos quadros principais do futebol não é sinónimo de falta de qualidade, de empenho, dedicação ou trabalho. Julgo que em Coimbra como em qualquer outro Distrito, os árbitros trabalham muito e bem. A questão é que em Lisboa, Porto e Braga existem um maior número de árbitros, o que proporcionalmente permite com que apareçam com mais frequência na 1ª Divisão. Estou certo que novas oportunidades surgirão.


AC-Como vê a evolução da arbitragem feminina no nosso País?
DG-Lenta, mas melhor do que há uns anos atrás. Tem sido grato poder assistir ao aumento de árbitras e da forma como, dentro de um conjunto bem específico de dificuldades, já aparecem nos Centros de Treino e nos Núcleos de Aperfeiçoamento.
Embora ainda longe da quantidade desejada, temos muita qualidade, já comprovada aliás a nível internacional.


AC-Gostaria de deixar algum conselho aos árbitros mais jovens e principalmente das categorias distritais, assim como aos leitores do nosso blogue?

DG-O que gostaria de lhes dizer é que esta é uma classe digna, séria e honesta. Estes são valores imprescindíveis que devem nortear o espírito de quem anda no futebol, seja a nível dos campeonatos distritais, seja na arbitragem do futebol profissional.

Quanto à obtenção de resultados, esses não caem do céu. É preciso espírito de sacrifício, muita força de vontade, empenho e compromisso totais.

O facto da estrutura ainda ser profundamente amadora não desculpa a falta de dedicação. Os árbitros escolhem esta carreira de forma livre e consciente e devem por isso, ser profissionais na sua forma de estar e na sua dedicação.

Devem preocupar-se em ter sucesso sem esperar o fracasso dos colegas. Devem usufruir cada segundo de cada jogo, pois gostamos do que fazemos e fazemo-lo, em primeiro lugar, por amor à camisola.

 

Foi assim a entrevista de Duarte Gomes com a sua visão futurista e ponderada acerca da realidade da arbitragem nacional e dos seus pontos de vista pessoais.

Estamos maravilhados com o conteúdo enriquecedor  das suas respostas sendo sem sombra de dúvidas uma das nossas melhores entrevistas até ao momento.

Aos mais jovens esperamos que esta entrevista vos mostre que nada se consegue na arbitragem sem esforço e dedicação por vezes colocando a arbitragem acima da nossa vida pessoal.

Agradecemos assim ao Duarte Gomes pelo seu contributo e disponibilidade e que continue a fazer aquilo que faz com gosto,seriedade e empenho, semana após semana em qualquer estádio,seja qual for o clube ....e que tenha toda a sorte do mundo a nível pessoal e desportivo.